ODIDÉ
ODIDÉ (papagaio da costa), a pena que cai do rabo é chamada Ekodidé e é utilizada principalmente nos ritos de Ifá, Iyami, Esù e Ori, afim de fazer algo sagrado, providenciar proteção contra ataque de maus espíritos, agressividade, perversidade, etc. Como diz um Itan Ifá, “Aquele que deseja felicidade por onde quer que vá, use o Ekodidé”.
É por isto que o Yawo usa o Ekodidé todo momento em reclusão, aquelas três voltas que ele dá no meio do Ile-Sire (salão de festa) simboliza suas futuras andanças pelo mundo, é compreendido como um pedido de direção, proteção na vida e felicidade.
O surgimento do Ekodidé
Conta a lenda que Oxalá, numa de suas caminhadas pelo mundo, iria passar pela aldeia de Oxun, onde pretendia parar e descansar.
Exú, mensageiro dos orixás, correu para avisar Oxun que o grande orixá fun-fun estava a caminho de sua cidade.
Era preciso organizar uma grande recepção, pois a visita era muito importante para todos. Ela, então, apressou-se com os preparativos da festa, ordenando a limpeza de todas as casas e lugares públicos da aldeia, bem como que os enfeites utilizados fossem da cor branca.
Oxun cuidou pessoalmente da ornamentação e limpeza de seu palácio, pois tudo tinha que estar perfeito, à altura de Oxalá. Com tantos afazeres importantes, em tão curto espaço de tempo, Oxun não se lembrou de convidar as Iya-mi para a grande festa.
As feiticeiras não perdoaram essa desfeita. Sentindo-se muito desprestigiadas, resolveram desmoralizar Oxun perante os convidados. No dia da chegada de Oxalá à cidade, Oxorongá entrou disfarçada no palácio para colocar, no assento do trono da Oxun, um preparado mágico, que não fora notado por ninguém.
Toda a cidade estava impecavelmente limpa e ornamentada. O palácio de Oxun, que fora caprichosamente preparado, tinha seus móveis e utensílios cobertos por tecidos de uma alvura imaculada. Branca também seria a cor das roupas utilizadas na cerimônia.
Oxalá finalmente chegou, sendo respeitosamente reverenciado numa grande demonstração de fé e admiração ao grande mensageiro da paz. Oxun, sentada em seu trono, esperava com impaciência a entrada de Oxalá em seu palácio, quando iria oferecer-lhe seu próprio assento.
Mas, ao tentar levantar-se, percebeu que estava presa em sua cadeira e, por mais força que fizesse, não conseguia soltar-se. O esforço que empreendeu foi tão grande, que, mesmo ferida, conseguiu ficar em pé, mas uma poça de sangue havia manchado suas roupas e também sua cadeira.
Quando Oxalá viu aquele sangue vermelho no trono em que se sentaria, ficou tão contrariado, que saiu imediatamente do recinto, sentindo-se muito ofendido. Oxum, envergonhada com o acontecido, não conseguia entender porque havia ficado presa em sua própria cadeira, uma vez que ela mesma tinha cuidado de todos os preparativos.
Escondendo-se de todos, foi consultar o oráculo de Ifá para obter um conselho. O jogo, então, lhe revelou que Oxorongá havia colocado feitiço em seu assento, por não ter sido convidada. Exú, a pedido de Oxun, foi em busca do grande pai, para relatar-lhe o ocorrido.
Oxalá retornou ao palácio, onde a grande mãe das águas estava sentada de cabeça baixa, muito constrangida. Quando ela o viu, começou a abanar seu abebe, transformando o sangue de suas roupas em penas vermelhas, que, ao voar, caíram sobre a cabeça de todos os que ali estavam, inclusive a de Oxalá.
Em reconhecimento ao esforço que ela empreendeu para homenageá-lo, ele aceitou aquela pena vermelha (ekodidé), prostrando-se à sua frente, em sinal de agradecimento.
A partir de então, essa pena foi introduzida nos rituais de feitura do Candomblé.